A abordagem ESG está cada vez mais no léxico das empresas e instituições, embora não seja assim tão recente. Tem raízes na teoria do Triple Bottom Line de John Elkington (década de 90) e na iniciativa de Kofi Annan, então Secretário-Geral da ONU, quando, em 2004, desafiou os CEOs das principais empresas financeiras mundiais a pensar na integração das questões ambientais (E), sociais (S) e de Governança (G) no mercado de capitais.
Embora na União Europeia os transportes sejam responsáveis por cerca de 25% das emissões de CO2, sendo um dos setores em que não se estão a assistir a reduções significativas das emissões, na taxonomia europeia, os transportes terrestres e fluviais de passageiros e de mercadorias são classificados como sustentáveis, facilitando o acesso aos mecanismos de financiamento.
A necessidade de transformação do setor dos transportes e mobilidade é urgente e tem sido imputada à indústria, “incentivada” a investir em tecnologias mais limpas e às cidades, desafiadas a introduzir políticas que promovam a redução da dependência do automóvel, tendo-se excluído desta reflexão, as empresas e os grandes geradores que justificam a realização das viagens.
Todavia, as viagens por trabalho representam ainda hoje uma fatia substancial da mobilidade, e por isso, é incompreensível que as empresas não sejam envolvidas no processo de promoção da sustentabilidade, nomeadamente no quadro dos princípios ESG.
Existem oportunidades objetivas para que as empresas se envolvam de modo significativo com a abordagem ESG relativamente ao tema mobilidade e transportes, importando diferenciar, as empresas que consomem mobilidade, daquelas cujo modelo de negócio assenta no transporte de mercadorias e bens.
Para as primeiras, consumidoras de mobilidade recomenda-se o desenvolvimento de um Plano de Mobilidade Empresarial (PME) no quadro da promoção da Política de Sustentabilidade da empresa. Em Portugal, este instrumento é referido no Plano Nacional de Eficiência Energética para as empresas com mais de 500 trabalhadores, mas em diversos países europeus é obrigatório para limiares bastante inferiores.
Este é um instrumento fundamental para compreender como é que os trabalhadores realizam as suas deslocações pendulares, cálculo da pegada carbónica da mobilidade e avaliação do nível de adequação da oferta de transportes face às suas necessidades. Conhecida a situação de partida é possível identificar ações que podem ser incluídas na estratégia da empresa e assim, influenciar a sua mobilidade.
A implementação do PME pode contribuir de modo significativo para aumentar a qualidade de vida dos trabalhadores, para a promoção de uma maior inclusividade e resiliência na retenção e captação de pessoas, mas também para a promoção de padrões de mobilidade mais sustentáveis.
No caso do segundo tipo de empresas, aquelas cujo modelo de negócio assenta na produção de transportes, assiste-se a uma descarbonização das frotas, mas existe ainda muito trabalho a desenvolver para promover uma maior eficiência na utilização dos recursos e na resposta às necessidades dos clientes.
Sendo óbvio que não é no contexto do Relatório de Sustentabilidade que estas questões são resolvidas é essencial acomodar os indicadores de avaliação que permitam aferir se estão ou não introduzidas melhorias no sistema e, em que medida, estas são transpostas para clientes e sociedade em geral. A necessidade de pensar os novos Relatórios de Sustentabilidade é uma oportunidade extraordinária para envolver as empresas na resposta aos desafios que enfrentamos. Tentemos não a desperdiçar!
Susana Castelo, CEO da TIS, empresa de consultadoria especializada em mobilidade sustentável